23 de jun. de 2020

Antropologia e experiências pessoais


Ao rever as ideias de Tyler, Montaigne, Kroeber e outros vejo que existe um grande conceito que foi destruído o de que a predisposição genética faz com que a atitude seja diferente, felizmente eu sou fruto e prova viva da inverdade deste conceito que Tyler e outros já haviam refutado. A ideia revolucionária da palavra Culture trouxe um enriquecimento da visão do que era cultura e do quanto a mesma era importante. Especialmente mais predominante do que a genética. A cultura alemã em minha família não contava com chucrute, cuca e Oktoberfest, então mesmo com o sobrenome de Klaus as tradições não se ligaram bem com meus genes que eram alemães supostamente, o que foi provado incorreto com teste de DNA do My Heritage DNA. “Mas de que família que tú é Nenê?” Não garante boas maneiras ou qualquer coisa mesmo uma vez que o ambiente e a cultura definem muito mais do que nossa biologia. Temos ainda um terceiro fator introduzido por Freud, psicologia. A teoria de Tylor apresentava seus problemas também, caracterizaria-se em nossos dias como politicamente incorreta, ele trazia o europeu como novo topo da pirâmide e sendo o exemplo da cultura em sociedade, ponto que nossa sociedade ainda ressalta. Baseando-se neste conceito etnocentrista ele é considerado um dos pais da antropologia. Sua ideia trazia em nível de cultura após os cidadãos europeus os bárbaros e em seguida os tribais, podendo ser uma das falhas sistema do pensamento que ele desenvolveu, aprendemos mais tarde com a crítica de Stocking que Tyler não levava em consideração o relativismo cultural. Também temos o exemplo dado por Franz Boaz ao deixar a Alemanha e viajar para o Polo Norte para conviver na sociedade dos esquimós e com esta observação participante ele pode compreender melhor que os esquimós não queriam ser como os europeus mas seu modo de vida os dava aquilo que precisavam e almejavam. Hoje posso ver os impactos dessas relações grandemente em meus círculos sociais, caçadorenses querem logo deixar Caçador e ir viver a vida dos grandes centros e em uma escala maior grande parte dos brasileiros ainda pensam em viver em um padrão de vida americano, tentando trazer o American Dream para a sua realidade ou ainda através de imigração ilegal. Após ter a oportunidade de viver dois anos no sul dos Estados Unidos há cerca de 5 horas da fronteira com o México eu pude aprender que o sonho americano já não existe mais, pude conhecer a triste história de diversos mexicanos que moravam ilegalmente no país e que não tinham as condições de vida que haviam sonhado - muitos relataram que as coisas estavam melhor do que no México mas ainda assim viviam em condições precárias. A maioria fazia do seu American Dream os trabalhos com jardinagem e moram em trailers, muitos ainda não falavam inglês depois de 20 anos no país e seus filhos ainda sofrem bullying na escola pelo seu sotaque uma vez que são alfabetizados em inglês após começarem a frequentar a pré escola. Quando o conceito me foi apresentado pensei muito nessas famílias e pude aumentar minha perspectiva nas causas que a humanidade se envolve trazendo assim a necessidade do estudo da antropologia. Desejos semelhantes não são encontrados tão frequentemente entre os nativos estadunidenses especialmente por conta do forte patriotismo cultivado no país. Exemplos ainda mais fortes são dados ao observar as nações dos Navarros e Pueblos onde a atitude ou cultura muda mesmo quando o local ou as circunstâncias locais são compartilhadas. Aprendemos hoje que a cultura pode ser aprendida ou incorporada, este conceito pode ser bem definido pelo termo endoculturação. O determinismo biológico não traz em si todas as respostas que queremos, esta ideia traz muito uma moral de que somos apenas produto de nossos pais. Ainda fica para discussão que jovens menonitas e amish rebelam-se contra a cultura na qual cresceram, indo contra os pensamentos de sua cultura e também contra a genética para os que já fazem parte da religião por gerações. Consideramos bárbaro aquilo que se pratica em terra alheia já disse Montaigne e quando vemos este tipo de situação ficam pergunta para reflexão, como por exemplo, o que eu faria nesta situação? Será que podemos chegar a um nível satisfatório de empatia, caridade e total compreensão das decisões do outro? Com estas diversas perguntas que não podem ser respondidas com verdade absoluta resta nossa esperança de deixar o mundo um lugar melhor do que o encontramos. 

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